miragens


Era de manhã - relativamente cedo. Estava debruçada sobre a minha janela do andar de cima - como é meu hábito. Todos os dias - quando avisto do lado de cá, a rua - vejo apenas vazio. As ruas estão desertas; as casas despidas; raro é ver uma pessoa que seja a passar por aqui. Mas hoje - hoje foi diferente. Com os dedos entrelaçados na chávena do chá - lá estava eu, comtemplando a bela manhã que ainda há pouco se descobriu no horizonte. O Sol estava relativamente tapado por uma nuvem meio-negra - mas mesmo assim teimou brilhar. Ao fundo da rua - bem lá no fundo - vinhas tu. Reconheci-te logo com o primeiro olhar. Trazias alguém contigo - uma rapariga. Desejei e pedi por tudo para que não me visses - quando passasses pela minha casa. Desejei ainda mais ter sido capaz de sair dali - ou simplemente ignorar-te. Mas uma força superior, prendeu-me à janela, fui incapaz de me mover - só os meus olhos estavam cravados na tua imagem. Há medida que te aproximavas da minha casa, o meu coração reagia com batimentos incontrolavelmente acelerados - e eu continuava incapaz fosse do que fosse. Aproximaste-te mais. Trazias um leve sorriso no rosto; o teu cabelo encaracolado desajeitado. As minhas preçes - para que não me vissem - não foram aceites. Ela olhou-me de relance - deu-te uma palavra e sorriu. O meu coração parou nesse instante - foi apenas o medo da tua reacção que me provocou tudo isto. Olhaste para mim - do canto do olho - na minha imaginação a tua mão levantou, para me dizer um pequeno adeus. Mas não - foi mesmo só imaginação. Consegui a muito custo desviar o meu olhar de ti - mas quando voltei a olhar - já tinhas desaparecido. Não sei se te vi - se foi miragem. Mas de todas as vezes que te tento dizer adeus de uma vez, voltas a reaparecer - nem que seja na minha cabeça. Porquê ? A nossa amizade terminou à muito tempo. Quero perceber isso - mas estou constatemente a fracassar e a ter de aguentar o fardo da tua ausência.

. nunca te disse - mas não quero que saias do lugar que reservei para ti, no meu coração. afinal de contas, é teu. Joana (L)

É a primeira vez que me sinto capaz de te identificar.

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